Esôfago de Barrett: Diagnóstico, Fisiopatologia e Abordagem Terapêutica Atualizada

O Esôfago de Barrett (EB) é a principal condição pré-maligna associada ao adenocarcinoma esofágico, sendo uma consequência da exposição crônica ao refluxo gastroesofágico. Seu diagnóstico precoce e estratificação correta são essenciais para o manejo adequado, prevenindo sua progressão para neoplasia. Este artigo revisa os aspectos fisiopatológicos, critérios diagnósticos e as abordagens terapêuticas mais atuais, incluindo vigilância endoscópica, supressão ácida e técnicas endoscópicas ablativas.

Matérias Dr Eduardo Bonin

O Esôfago de Barrett (EB) é uma condição pré-maligna caracterizada pela substituição do epitélio escamoso normal do esôfago distal por epitélio colunar especializado com metaplasia intestinal, secundária à exposição crônica ao refluxo gastroesofágico. Apesar de ser um fator de risco estabelecido para o adenocarcinoma esofágico, a maioria dos pacientes não evolui para malignidade. O manejo clínico do EB depende da presença e grau de displasia, sendo a vigilância endoscópica essencial para a estratificação de risco. As opções terapêuticas incluem supressão ácida, controle dos fatores predisponentes e, nos casos indicados, tratamento endoscópico ablativo. Este artigo revisa os aspectos fisiopatológicos, os critérios diagnósticos e as condutas terapêuticas atuais para o EB.

1. Introdução
O Esôfago de Barrett (EB) é a principal condição pré-maligna associada ao adenocarcinoma esofágico, cuja incidência tem aumentado nas últimas décadas. A condição está fortemente associada à Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) e é caracterizada pela presença de epitélio colunar especializado no esôfago distal, confirmado histologicamente pela detecção de metaplasia intestinal com células caliciformes.

A prevalência estimada do EB na população geral é de 0,8%, sendo mais frequente em indivíduos do sexo masculino, obesos e tabagistas. A transformação maligna ocorre a uma taxa de aproximadamente 0,5% ao ano, sendo o risco significativamente maior em pacientes com displasia de alto grau.

2. Fisiopatologia
O EB é considerado a consequência mais grave da DRGE crônica. A exposição prolongada ao conteúdo gástrico ácido e, em alguns casos, à bile, promove um processo inflamatório e adaptativo no epitélio esofágico. Este dano persistente resulta na substituição do epitélio escamoso estratificado normal por um epitélio colunar especializado, semelhante ao do intestino delgado.

Os principais fatores de risco incluem:
✔ Refluxo gastroesofágico de longa data
✔ Hérnia hiatal
✔ Obesidade visceral
✔ Tabagismo e etilismo
✔ Predisposição genética e histórico familiar de adenocarcinoma esofágico

A presença de displasia de alto grau no epitélio metaplásico é o principal preditor de progressão para adenocarcinoma, justificando a necessidade de vigilância endoscópica rigorosa e, em casos indicados, intervenção terapêutica precoce.

3. Diagnóstico e Classificação
3.1 Critérios Endoscópicos e Histopatológicos
O diagnóstico do EB é baseado em achados endoscópicos e histológicos. A endoscopia digestiva alta (EDA) é o método padrão-ouro para a identificação da metaplasia intestinal, que deve ser confirmada por biópsias seriadas de acordo com o protocolo de Seattle.

📌 Classificação de Praga:
A Classificação de Praga é o sistema mais aceito para estratificar a extensão do EB:

Segmento curto (C<3cm, M<3cm): menor risco de progressão
Segmento longo (C≥3cm, M≥3cm): maior risco de progressão
📌 Classificação Histológica:
A histologia permite classificar o EB de acordo com a presença de displasia:

Sem displasia: Vigilância periódica recomendada
Displasia de baixo grau: Monitoramento rigoroso ou ablação endoscópica
Displasia de alto grau: Indicação de tratamento endoscópico imediato
O uso de endoscopia de alta definição e cromoscopia digital melhora a detecção da metaplasia intestinal e das áreas de displasia, aumentando a acurácia do diagnóstico.

4. Tratamento e Manejo Clínico
4.1 Vigilância Endoscópica
A recomendação atual para pacientes com EB sem displasia é a vigilância endoscópica a cada 3 a 5 anos, dependendo do perfil de risco. Nos casos de displasia de baixo grau, a vigilância pode ser feita anualmente ou considerar tratamento ablativo precoce.

4.2 Supressão Ácida e Controle dos Fatores de Risco
O controle da secreção ácida é essencial para prevenir a progressão do EB. O uso contínuo de inibidores de bomba de prótons (IBPs) está associado à redução da inflamação crônica e da progressão da displasia.

Mudanças no estilo de vida também são fundamentais:
✔ Perda de peso e controle da obesidade abdominal
✔ Interrupção do tabagismo e redução do consumo de álcool
✔ Evitar refeições volumosas antes de deitar
✔ Consideração de cirurgia antirrefluxo (fundoplicatura) em casos refratários

4.3 Tratamento Endoscópico
Nos últimos anos, o tratamento endoscópico emergiu como a principal abordagem para pacientes com displasia de alto grau e adenocarcinoma intramucoso. Os principais métodos incluem:

✔ Ablação por radiofrequência (RFA): indicada para displasia de baixo e alto grau.
✔ Ressecção Endoscópica da Mucosa (REM): indicada para lesões nodulares ou adenocarcinoma intramucoso.
✔ Crioterapia Endoscópica: alternativa emergente para pacientes não elegíveis para RFA.

Os estudos mais recentes demonstram que a combinação de REM + RFA proporciona taxas superiores a 90% de erradicação da displasia e da metaplasia intestinal.

5. Considerações Finais
O Esôfago de Barrett representa um desafio clínico significativo devido ao seu potencial de progressão para adenocarcinoma esofágico. O diagnóstico precoce, a estratificação de risco adequada e o uso de estratégias terapêuticas personalizadas são essenciais para otimizar o prognóstico dos pacientes.

O avanço das técnicas endoscópicas ablativas tem permitido um tratamento menos invasivo, reduzindo a necessidade de esofagectomia em pacientes com doença avançada. O acompanhamento contínuo e o manejo adequado dos fatores de risco seguem sendo a base da prevenção e do controle dessa condição.

Sobre o Instituto Mevy e o Dr. Arturo Bonin
O Instituto Mevy é uma instituição dedicada à pesquisa, ensino e desenvolvimento de novas abordagens na área da gastroenterologia e endoscopia digestiva. Fundado pelo renomado Dr. Arturo Bonin, o Instituto tem como missão promover conhecimento científico de alta qualidade, capacitar profissionais da saúde e oferecer conteúdos técnicos atualizados sobre doenças do trato digestivo. O Dr. Bonin é reconhecido internacionalmente por sua expertise e contribuições na área da endoscopia terapêutica, sendo uma referência na investigação e manejo de doenças gastrointestinais.

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